Tudo parecia tão cinza, eu não conseguia sorrir, eu não conseguia comer, eu não conseguia ao menos chorar. Minha cabeça doia, ninguém tinha coragem pra falar comigo porque sabia o que tinha acontecido, eu queria abraçar alguém pra tentar chorar mais em plêna 3 horas da manhã quem iria querer me abraçar? Peguei minha jaqueta e fui sair.
- Onde você vai?- Disse minha tia que estava acordada na sala.
- Ah tia vou sentar na grama lá em baixo pra relaxar um pouco.
-Ok, cuidado eim.
- Ta bom tia.
Entrei no elevador, acho que no fundo minha tia sabia que eu não ia ficar no prédio e sim sair andando sem destino, andar sempre foi bom pra mim, gosto muito de andar sozinha, de relaxar, de esquecer. Eu fui andando em meio ao escuro da noite em um beco onde realmente só havia eu, o escuro e a única luz era a da lua. Ali parecia o lugar ideal pra ficar até eu me sentir melhor. Me sentei no chão e encontrei uma caixa. Uma caixinha azulzinha, brilhosa, bem nova, pelo jeio havia sido deixada ali a pouco tempo. Confesso que fiquei com medo de abrir, mais respirei fundo e abri. Havia uma carta, que eu não aguentei a curiosidade e li:
"Oi, meu nome é Clarice, se alguém encontrou isso é porque o destino quis, o destino mandou. Por muito tempo isso me fez bem, me fez me libertar, me sentir mais forte e as vezes até conseguir chorar, mais hoje não dá mais pra mim. Minha vida é uma pressão constante pra mim e eu me cansei, estou indo agora descansar, eternamente e agora é o fim. Não sei se isso irá te fazer bem também se você encontrou, mais creio que sim, sou muito ligada nessa coisa de destino. É isso. Adeus mundo, foi bom conhecer a vida agora irei conhecer a morte."
Isso só me deixou mais curiosa pra ver o que tinha na caixa, desviei a luz do celular que batia na carta e me virei para a caixa. Havia uma cinco ou seis lâminas, todas brilhantes, nenhum velha, todas realmente brilhantes como se estivesse sido esterelizadas. Aquela menina que deixou aquilo ali realmente era ligada em destino e com certeza sabia que eu iria encontrar. Eu nunca acreditei ne espiritos, mais naquela noite eu tenho certeza do que vi. Uma luz desceu aonde eu estava, era uma alma, que agora descansava. Eu não fiquei com medo, aliás nada me dava medo. Era uma menina. A menina. Era Clarice.
- Eu sabia que alguém iria encontrar.
- Oi, você é a Clarice?
- Sim, e você?
- Sou a Keth, você está realmente morta?
- Sim. E pode acreditar, eu estou aqui porque sei que você não está bem, pois se estivesse você não estaria a essa hora aqui e não encontraria minha caixinha.
- Realmente não estou bem, meu pai acabou de morrer e eu não consigo chorar, eu só queria algo que me libertasse dessa dor.
- Não quero te influciar, aliás, sou apenas um espirito, mais vou lhe contar. Essas lâminas me fizeram super bem, cada dor que sentia quando ela tocava minha pele me fazia me sentir melhor.
- Mais as pessoas percebiam que você se cortava?
- Não, olhe bem no fundo da caixa azul, viu? É uma blusa de frio, eu sempre a usava. Ela não é quente, só é de manga longa, feita especialmente para quem precisa. Eu a encontrei nessa mesma caixinha do mesmo jeito que deixei pra você. Agora preciso ir Keth, faça o que achar melhor.
Aquela luz sumiu da minha frente, eu não sabia bem o que fazer, mais decidi arriscar peguei a lâmina e passei forte e bem devagar no meu braço. O sangue escorreu e o peso do meu coração escorreu junto. Eu senti o cheiro do sangue e me senti viva, me senti feliz. De repente, uma lágrima. Cada lágrima escorria pesada, com força e aquele sangue junto com as lágrimas me faziam bem. Até que desmaiei. "Menina acorda" escutei internamente. Algo dentro de mim disse, eu levantei o sangue havia secado, vesti minha jaqueta, peguei a caixinha e voltei para minha casa. Eu percebi que daquele dia em diante a lâmina seria minha melhor amiga. Apesar de não ter acreditado no que eu vi. Achei que estava delirando, mais considerei válida o que eu tinha visto, sonhado ou delirado sei la.