Chegando em Porto Alegre senti um calafrio que eu nunca tinha sentido antes. Por que eu estava com tanto medo? Eu me agarrei no braço de Arthur com Clarice no colo, ela tinha um sorriso tão lindo que até eu sorria as vezes.
Fomos pra casa, eu entrei e me senti realmente em casa, como não tinha me sentido em São Paulo.
- O que foi amor? - Arthur interrompeu meus pensamentos.
- Nada é só que eu estou me sentindo em casa e não me senti assim em São Paulo!
- É porque aqui que é sua casa Ketellyn! Seja bem vinda de volta!
Eu o abracei com tanta força que foi inexplicável.
- Keth, vou ali comprar algumas coisas pra gente.
- Ok meu amor, cuidado!
Eu o beijei e voltei a sentir o calafrio, fiquei com medo, quis chorar, mas não podia.
Fui até o quarto e peguei Clarice e disse:
- Minha filha, eu vou te proteger com todas as minhas forças, nada de ruim irá te acontecer.
Mayara estava bancando a babá de Clarice. Não a largava nunca, se tornou até chato.
Quando vi o tempo tinha passado e muito. Arthur não tinha chegado. Senti medo mas não falei nada a ninguém, continuei arrumando as coisas.
Minha tia estava fazendo um macarrão da qual nunca me.esquerei do cheiro, algo tão gostoso e confortável, algo me dizia casa naquele cheiro.
Fui até a cozinha para ajuda-lá:
- Precisa de ajuda tia?
- Não! Já está quase pronto. Onde está Arthur?
- Então tia, ele saiu e já tem um tempo, estou começando a ficar preocupada, acho q vou ligar pra ele.
- Ligue! Também me preocupei.
Peguei meu celular e liguei. Caixa postal. Liguei de novo. Caixa postal de novo. Comecei q ficar mais preocupada e a querer chorar.
Meu coração foi formando uma bolha dentro de mim, meu pensamento surgiu como se fosse uma premonição.
- Tia! O Arthur sumiu!
- Como assim Keth?
- Sumiu tia! Não atende o celular e eu estou sentindo isso.
- Calma Keth, não temos certeza de nada! Pode ser só uma intuição ruim.
- Tia, você não entendi! É  algo muito forte o que estou sentindo!
- Keth, calma! Você não pode ficar nervosa assim, tudo vai se resolver.
Minha tia me abraçou e eu não me contive, chorei. Chorei um choro sufocante mas silencioso. Ouvi uma voz na minha cabeça. "Vá para casa de Maria Laura, ele está lá!".
Primeiro fiquei pensando em quem teria me dito isso e depois vi que era uma voz na minha consciência apenas e então chamei Mayara.
- Mayara cuide de Clarice! Eu já volto!
E sai. Fui direto para a casa se Maria Laura com três das minhas maiores lâminas no bolso, com medo. As lâminas só me ajudariam a machucar alguém e eu não sabia o que teria lá.
Maria Laura morava em uma casa enorme em um lugar mais afastado, não era mais na cidades, mas bem próximo de POA. Um lugar sombrio, capim seco por todos os lados e pouca iluminação. Vi que as luzes do quarto dela estavam acesas e vi um vulto. Permaneci andando lentamente sob o escuro para chegar até as portas dos fundos, quase silenciosamente. A porta estava aberta. Abri de modo silencioso.
Primeiro eu não conseguia pensar em como iria tira-lá do quarto, pois se Arthur estivesse na casa estaria lá. Fiquei murmurando pra mim mesma " Pensa Keth, pensa!" mas não conseguia pensar em nada. Como finalmente pensei.
Fiquei perto das escadas de modo que pudesse subir enquanto ela descia, peguei uma pedra e joguei de modo que derrubou as panelas sobre a mesa e quebrou o vidro da  janela em pequena parte. Ouvi os passos, era ela vindo. Quando ela se dirigiu para a cozinha subi as escadas com um silêncio absoluto. Eu nunca tinha entrado na casa dela, mas sabia muito bem onde ficava o quarto por ser o único lugar com luz. Abri a porta e me deparei com Arthur, desmaiado, nu e todo acorrentado.
Chorei. Olhei e vi as chaves, peguei corri e abri os cadeados que prendiam as correntes, enrolai o lençol em Arthur e o abracei.
- Arthur acorde por favor! Vou eu Ketellyn! Você precisa acordar para fugirmos daqui.
Murmurei e lhe beijei. Mesmo que pareça impossível ele acordou.
- Arthur, vamos! Precisamos fugir!
Ele levantou ainda meio tonto e amarrou o lençol em si. Fomos andando bem de vagar, ele meio cambaleando e eu chorando. Peguei um jarro que estava ao meu alcance e joguei de modo que se quebrasse na região da sala. Ele caminhou com um faca em mãos e eu desci as escadas Abri a porta dq frente e fui até onde o táxi estava me esperando e entramos.
- Moço, de volta para minha casa! Corre!
O homem correu. Muito. De modo que desse uma arrancada de início.
- Amor o que aconteceu?
- Eu não me lembro Keth! - Ele tossiu. - Acho que ela me dopou de alguma maneira.
- Mas você não se lembra de nada?
- Da última vez que me lembro eu estava comprando um suco e um carinha me ofereceu assinaturas de revistas.
- Aí Arthur, mas você está bem?
- Sim, só estou sentindo uma forte dor no pulso.
Eu o abracei e depois o beijei. Nossos olhos se encontraram por um instante. Um sorriso no meu rosto de alívio.
Ao chegar pediu para o taxista entrar no prédio. Minha tia pagou o táxi, e Arthur foi tomar um banho. Eu estava com medo do que aconteceria dali em diante.

Chegando à fazenda me senti como se algo ruim estivesse me aguardando ali, mas resolvi chegar e dormir. Eu estava extremamente cansada e acho que por isso meu quarto era o mais longe, porém o melhor. Arthur me acompanhou, mas resolveu ir conhecer o local ao invés de dormir.
Eu me deitei e não conseguia dormir de maneira alguma, algo me dizia que eu não deveria ficar ali, minha cabeça doendo, meio que latejando, enfim dormi.
Escolha errada, tive o pior sonho, na verdade pesadelo.
Eu estava sentada em uma varanda, em frente ao mar, Arthur vinha me trazendo leite quente e Clarice com dois anos de idade balançando com uma boneca em mãos. Ela sorria e dizia "mamãe eu te amo"! De repente vi o leite escorrendo, a bandeja no chão, não vi Arthur nem Clarice, somente o balanço e a boneca. De repente vi Maria Laura sorrindo e jogando um bilhete, então acordei. Sai correndo até Arthur.
- O que foi meu amor? - Ele disse com um olhar assustado.
- Nada, só um sonho ruim.
- Tudo bem, eu te protejo!
Ele me abraçou mais forte e me beijou. Eu não estava me sentindo bem, acho que eu queria mesmo era voltar para São Paulo, com minha mãe e meu pai por perto, coisa que eu nunca mais teria.
Meu coração estava muito apertado, eu queria pegar uma lâmina e enfiar no meu pulso, mas não podia, eu tinha que proteger Clarice, mesmo que fosse algo impossível.
A mãe de Arthur tinha preparado um jantar que estava com um cheiro bom. Uma famosa receita chamada "arroz biru-biru". Eu nunca havia comido, mas cheirava bem. Me sentei à mesa do lado de Arthur, então comemos o maravilhoso arroz acompanhado com um suco de laranja.
Arthur me olhou fixamente por um momento com uma expressão de preocupado e se levantou fazendo um sinal para ir atrás dele. Me levantei e fui.
- O que foi amor?
- Keth, eu não sei, não estou me sentindo bem aqui. Sei-lá estou com medo de que algo aconteça.
- Arthur, eu também estou me sentindo assim, tive um sonho horrível. Meu medo é o que pode acontecer.
- Nós estamos longe de tudo, aqui nem celular pega. E se algo acontecer? O que iríamos fazer?
- Não sei, Arthur, eu to como medo, quero voltar pra São Paulo, quero viver sem ter que me esconder.
- Meu amor eu não sei, quero sair daqui, mas não sei se minha mãe vai querer.
- Isso é verdade, acabamos de chegar. Devemos esperar um pouco.
A gente se abraçou e só ficou ali. Eu nem queria comer mais, olhos cansados e mente a mil por hora.
Aquele nossa angustia só ia aumentando a cada dia, ficamos ali 5 meses. Faltava só um mês para dar a luz e então decidimos ir para São Paulo, especificamente em um lugar chamado "Casa da minha mãe"!

Se passaram duas semanas, pra mim estava tudo bom, tudo perfeito. Eu já tinha até me esquecido de Maria Laura e eu e Arthur estávamos muito bem. EU já tinha ido ao médico uma vez e ele foi comigo.
Todo dia Arthur passava a tarde comigo e nesse dia ele demorou muito. Eu já estava começando a ficar preocupada quando ele chegou com uma caixa em mãos.
- Keth, hoje aconteceu algo e eu descobri algo.
- O que meu amor?
- Sente-se! - Eu me sentei e ele continuou colocando a caixa em cima da mesa. - Hoje chegou uma aluna novata no meu colégio e era Maria Laura. De alguma forma ela sabia tudo e disse que não vai parar enquanto não "me tiver"! E eu tive uma grande descoberta.
Eu estava muito nervosa, mas vou contar-lhe o que aconteceu.
Acontece que Maria Laura não era seu nome verdadeiro e aquela não era uma coleguinha novata e sim a filha da esposa do tio de Arthur. Na verdade o nome dela era Emilly Cabral, cujo os pais tinham sido assassinados e nunca descobriram quem foi o autor do crime. Desde bem pequena tinha um interesse psicopático em Arthur. Um ano depois de estarem bem grudados os pais foram para fora do país, onde morreram, e como Emilly não tinha ninguém cresceu sozinha, sem ninguém e ao chegar aos 16 conseguiu identidade falsa e veio para o Brasil atrás do seu amor psicopático, Arthur, e como ninguém tinha percebido ela estava na dela e feliz achando que teria conseguido.
- Então amor, quando ela conversou comigo e falou essas coisas e depois  usou um termo que só ela usava "doce de amora com coco" e ninguém me chamava assim além de Emilly, eu desconfiei. Cheguei em casa e peguei essa caixa antiga e olhei as fotos e as cartas e tive certeza, é ela! Alguém da família deve ter contado tudo a ela.
- E o que vamos fazer?
- Vamos sumir por um bom tempo. Vamos para uma chácara no interior, dos meus pais, minha mãe vai com a gente e não iremos contar nada a ninguém.
- Espero que tudo fique bem!
- E vai Keth!- Ele me beijou.

Mais tarde a campainha tocou e ouvi o grito da minha tia:
- Keth é o Arthur!
Fui correndo e peguei na mão dele puxando-o para o quarto dizendo:
- Vem, precisamos conversar!
Ele se sentou, mas eu não consegui e comecei a falar:
- Arthur eu não sei como te contar, nem sei como começar...
- Keth, primeiro me conte a verdade, porque terminou comigo? Eu sei que você ainda me ama, eu vejo nos teus olhos, me conte a verdade!
- Arthur, vou te contar, só que você não vai acreditar.
- Me conte Keth, é claro que irei acreditar eu te conheço muito bem, sei quando está falando a verdade.
- Então, lembra quando minha prima foi sequestrada? Logo em seguida eu recebi um telefonema em casa, era Maria Laura. Ela me disse que estava com a minha prima e que "devolveria" ela se eu terminasse contigo, caso contrário eu nunca mais iria ver minha prima, então eu não tive escolha, eu tive que terminar.
Arthur ficou em estado de choque e me olhando e então eu continuei a história.
- Eu não deveria te contar e muito menos voltar depois e você não pode contar a ninguém isso e nem contar que voltamos, se é que vamos voltar.
- É claro que vamos!
- Mas não conte a ninguém, porque há algo além de nós dois, além da minha prima e além de Maria Laura!
- Do que você está falando Keth?
- Arthur... Eu estou... É... Estou... Grávida!
Ele me olhou por um instante, fez cara de espanto, olhou para baixo e sorriu. Ele me puxou pela cinturo e me sentou no colo dele, nesse momento comecei a chorar, ele me beijou e disse:
- Vai ficar tudo bem, eu te amo e nunca te deixaria só! É o nosso bebezinho que está aqui - Ele passou a mão na minha barriga. - Nós vamos nos livrar da Maria Laura e vamos ser a família mais feliz desse mundo.
Eu o abracei com toda a força do mundo, eu estava me sentindo protegida. Eu continuava chorando e ele também começou a chorar. Ele afastou o cabelo do meu rosto e disse:
- Eu te amo tanto! - E me abraçou forte.
Eu percebi que tudo iria ficar bem, mas tinha uma coisa que iria atrapalhar muito, eu não iria conseguir olhar para Maria Laura. Ou eu mudaria de colégio, ou pararia de ir até tudo se resolver.
E se ela descobrisse? E se ela fizesse mal a mim e a Clarice? Aquilo precisava se resolver.
-Arthur, como vamos fazer para que Maria Laura não descubra?
- Precisamos sair daquele colégio!
- Sim!
- Eu vou falar com a minha mãe e você fala com sua tia, elas irão entender.
- Ta bom, só que eu não volto naquele colégio por nada.
- Eu te entendo amor.
Arthur conversou com os pais dele e eu com minha tia. Arthur mudou de colégio e eu voltaria as aulas só depois que tudo passasse.

Chegando ao médico ele mandou que eu fizesse um monte de exames e ao abrir o exame ele pediu para que minha tia se retirasse do consultório. Ela saiu e ele começou:
- Ketellyn o que eu tenho para te dizer pode não ser moito bom. - Ele fez uma expressão muito séria.
- O que foi doutor?
- Ketellyn você está grávida!
- Oi?
Por um momento tudo se passou na minha cabeça, meus olhos se encheram de lágrimas, vi Arthur, vi Clarice e vi também a bruxa da Maria Laura. Comecei a querer chorar e meu olhar se encontrou ao do médico e ele interrompeu meus pensamentos.
- Você quer que eu converse com sua tia?
- Sim, por favor.
- Espere la fora e peça para que ela entre e depois eu te chamo e conversamos juntos.
Eu sai e chamei minha tia e logo em seguida sai correndo para o banheiro do hospital e comecei a chamar por Clarice. Eu a senti, senti que ela estava ali, porém ela não aparecia."Clarice aparece por favor" eu implorei e então olhei para o espelho e eu vi uma luz, que era Clarice e de uma maneira que eu nunca vi antes. Ela disse:
- Até breve!
E então foi se reduzindo e se aproximando, a cada vez que ela se aproximava ela ficava mais nova, até que ela se tornou um bebê e sumiu.
Foi ai que eu me dei conta, Clarice se tornou o meu bebê e eu teria que salvar ela, para que ela pudesse cumprir sua missão e só então fosse descansar em paz.
Passei a mão na minha barriga e disse:
- Clarice eu vou lhe retribuir tudo o que fez por mim!- E senti ela se mexendo, agora não mais como uma alma adolescente e suicida e sim como um bebê,pura e ingênua.
Sai do banheiro e me sentei, eu tinha que ligar para Arthur só que não sabia como iria dizer isso a ele, só que ele era o pai, então eu tinha tinha que contar de alguma maneira, eu tinha que reatar o namoro e de alguma forma tirar Maria Laura do meu caminho.
Minha tia saiu do consultório e me abraçou forte e disse:
- Eu vou cuidar de você, eu prometo, vamos vencer isso juntas, eu passei por isso, sei como é!
Eu fiquei muda naquele momento e me senti muito confortável no abraço de minha tia.
Eu liguei para Arthur e o celular dele só dava desligado, então, eu deixei recado: Arthur, assim que ouvir esta mensagem me liga ou vá la em casa, preciso muito falar com você.

Acredite se quiser, foi um sonho de um sonho. No mesmo dia sonhei que aconteceria e aconteceu. Eu sei que eu merecia porque eu corri atrás. Quando vi o tweet da Manoela eu me desesperei. Poxa ela estaria aqui e eu teria que ir atrás e foi o que eu fiz, imprimi o livro (ainda não publicado) e fui atrás dela, horas no hotel esperando. Eu finalmente consegui, abracei minha nena, minha felicidade foi a mil, cheguei a tremer. Eu só desejo que todas as pessoas do mundo realize seus sonhos, conheça seus ídolos, pois a nossa vida é movida de sonhos e são eles que mudam o nosso dia.
Não vi só a Manoela como vi outros artistas, agradeço a cada um pela atenção.

Confiram as fotos: